Quando alguém comete um homicídio sangrento e demente, a cultura popular diz-nos que o mais provável é que apareçam vizinhos, amigos e colegas de trabalho a dizer que nunca imaginaram que algo assim pudesse acontecer. "Ele era um rapaz tão calmo, sempre tão bem educado. Ainda ontem me ajudou a carregar uma saca de repolhos", dirá a vizinha idosa do quinto esquerdo. Com os crimes de violência doméstica passa-se o oposto. Saem debaixo das pedras e por detrás dos arbustos pessoas que, vendo bem, agora que pensam nisso, sempre acharam o tipo um bocado agressivo e desagradável e, a bem dizer, não surpreende que desse lá uns safanões à senhora. Por que é que não falaram antes? Nunca ninguém tem resposta cabal. É o que está a acontecer com as acusações de violência doméstica de que José Castelo Branco foi alvo. Um choque, mas, vendo bem, não uma surpresa. Desde que Betty Grafstein denunciou os abusos aos médicos da CUF Cascais, onde está internada com uma fratura no fémur e lesões no antebraço e, soube-se entretanto, uma pneumonia, têm surgido cada vez mais informações que corroboram uma tendência para a violência – vídeos de uma discussão com um inquilino e de uma altercação num restaurante são os mais recentes. Castelo Branco foi hoje detido para interrogatório. Um final triste para um casamento que começouhá quase 28 anos. Mas como terá sido o princípio da relação? Foi isso que tentámos descobrir.
Há tantas fotografias e vídeos de uma figura exuberante ao lado de uma senhora idosa e debilitada que é fácil esquecer que não foi sempre assim. Betty, diminutivo de Elizabeth Larner (nome de solteira), é uma inglesa nascida em 1928, filha adoptiva de uma dama de companhia da rainha Maria, a avó da rainha Isabel II. Razão pela qual recebeu, ainda bebé, o título de lady. Muito jovem, aos 18 ou 19, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, decide ir viver para Nova Iorque, com o seu primeiro marido, um playboy que depressa a abandona com um filho recém-nascido nos braços. Pouco depois conhece Albert Grafstein, um judeu negociador de diamantes que dirige com o irmão a Grafstein Diamond Corporation. Betty e Albert casam-se e a união dura até à morte deste, em 1991. Albert adopta Roger, filho do primeiro casamento de Betty, e é ele quem hoje em dia, juntamente com o primo, filho do outro irmão Grafstein, comanda a empresa de diamantes. É daqui que vem a fortuna de Betty e é também na sequência do casamento com Albert que se torna joalheira.
Corta para José Castelo Branco, como se diz no cinema. Os dois conhecem-se em meados da década de 90, em Nova Iorque, pouco depois de Betty ter enviuvado, numa festa do arquiteto e artista plástico Júlio Quaresma. Castelo Branco era já nessa altura negociador de arte, pelo que os dois encontraram imediatamente tema de conversa. O que José Castelo Branco já tinha sido, mas já não era, pelo menos, naquele momento, era Tatiana Romanova: uma drag queen que, durante os anos 80, chegou a atuar em festas de Donald Trump. Como o mundo é pequeno.
Numa edição recente do programa de Manuel Luís Goucha, que partilha o nome com o apresentador, Goucha entrevistou o jornalista das revistas cor-de-rosa Abel Dias que é também amigo de Betty Grafstein e que a conheceu antes de ela ter conhecido Castelo Branco. O jornalista conta que a amiga gostava muito de estar sempre no meio de pessoas, não queria estar sozinha, e que "esse acabou por ser o mal dela". Goucha, que também a conhece há vários anos, acrescenta que ela "era uma senhora muito divertida e muito independente". Abel conta que tanto ele quanto Júlio notaram uma aproximação entre os dois, mas que não imaginaram que se transformasse numa relação amorosa. Acharam que era mais "uma questão de companhia".
Certo é que quando, em 27 de novembro de 1996 – que é também o dia em que Betty fazia 68 anos – os dois se casam, nem Abel Costa nem Júlio Quaresma foram convidados. "Porquê?", pergunta Goucha. "Porque éramos contra. Porque não era possível que alguma coisa desse certo com aquele tipo. A gente conhecia-o. Ele é um aldrabão convicto." E ilustra com o seguinte exemplo: "Dizia que vivia em Saint Antoine des Chevaliers, para não dizer Santo António dos Cavaleiros. Porquê? Porque a Lili Caneças lhe disse que era mais chique."
Não eram apenas os dois amigos que opunham ao casamento de Betty e Castelo Branco. Goucha acrescenta que sabe de fonte segura, porque tem amigos em Nova Iorque que conhecem bem a história, que "Roger nunca concordou com o casamento, nunca gostou do José Castelo Branco e nunca foi visita lá de casa". Há apenas uma fotografia em que Roger é visto no mesmo espaço que José Castelo Branco: no aniversário dos 90 anos da mãe. Sobre Roger, Abel acrescenta que este está agora a tomar todas as medidas possíveis para proteger a mãe e que já, anteriormente, a tentou afastar de José Castelo Branco, quando Betty apareceu em público com uma pala num olho, para esconder uma escoriação que se suspeitou ter sido feita pelo marido, mas que ela negou – garantiu ter batido contra um móvel.
Adensam-se as suspeitas de que não só José Castelo Branco estaria casado com Betty Grafstein por interesse, pelo estilo de vida que ela lhe proporcionava, como, a confirmarem-se os indícios, teráexercido violência física e psicológica sobre a mulher – uma senhora 34 anos mais velha do que ele. De resto, a forma como Castelo Branco se dirigia a Betty nos vídeos que publicava nas redes sociais era, por si só, um tanto estridente e opressiva.Resta saber se seria, afinal, apenas a ponta do iceberg.
Se é o estilo de vida que interessa a Castelo Branco, a investigação colocou-o numa situação pericl*tante: começou já a perder patrocínios e parcerias com marcas, uma delas, o Grupo Feira, anunciou ter cortado relações com o socialite: "as supostas atitudes do artista José Castelo Branco contrariam os valores e a missão da nossa empresa". Por outro lado, há quem comente que os olhos do negociador de arte sempre estiveram firmemente pousados na herança. Sobre isso, o Correio da Manhã já divulgou que pelo menos o palacete que Betty tem em Sintra foi deixado em testamento a Guilherme Castelo Branco, filho do marido. Um testamento que a joalheira terá feito há 15 anos e que, até ao momento, que se saiba, não sofreu alterações. Porquê ao filho? Dois motivos são apontados: porque Betty viu crescer Guilherme e gosta muito dele e porque José Castelo Branco tem dívidas ao Fisco pelo que o palacete poderia vir a ser penhorado para pagamento das mesmas.
O futuro de José Castelo Branco permanece incerto: para já, sabe-se que está detido na GNR para ser interrogado.
Próxima Notícia Polanski absolvido de difamação